“Parece que a comunicação de clima está sempre jogando água no chopp dos outros”
Painel da CBMC avaliou os desafios da comunicação ambiental
Há muitas críticas quanto a forma como os veículos de comunicação reportaram o aquecimento global durante os últimos anos. Cinthya Feitosa, do Instituto Clima e Sociedade (iCS), usou a seguinte expressão para explicar como a comunicação vinha sendo feita: “parece que a comunicação de clima está sempre jogando água no chopp dos outros”.
Cinthya mediou o painel Desafios da comunicação ambiental no cenário de mudança do clima – novos olhares e soluções para a comunicação, realizado na Conferência Brasileira de Mudança do Clima (CBMC), no Recife, em novembro.
Ainda sobre como a imprensa cobriu essa agenda, a moderadora observou que “temos que fazer uma comunicação positiva nessa agenda, porque talvez falar de catástrofe não mobilize as pessoas”, disse Cinthya.
Paulo Muçouçah, sociólogo e consultor autônomo sobre temas socioambientais, também observou os erros da comunicação. “A comunicação ambiental é apenas para uma bolha. Fria e mecânica, revestida de uma linguagem científica e técnica, despida do fator humano. Os comunicadores não tomaram conhecimento sobre o quanto o trabalho é peça fundamental na relação entre trabalho e clima, sendo que houve 2% da perda do PIB dos Estados Unidos em função dos impactos da crise climática, enquanto a mídia permanece falando apenas para os já convertidos: cientistas e ambientalistas”, disse Muçouçah, que ainda completou: “é preciso mudar o destinatário da comunicação ambiental, tem que ser para todos e não para editorias específicas”.
Federico José Bottino, fundador da Sloweb e Digital Ethics Fórum, assentiu com Cinthya e Paulo. “Concordo que, de fato, precisamos mudar o tom ao transmitir uma mensagem. A semântica tem o poder de ser usada para alcançar mais pessoas”, avaliou.
Quanto aos demais impactos do aquecimento global, que assim como a questão do trabalho, nem sempre são observados pela imprensa, como apontou Paulo Muçouçah, as mulheres e a mobilidade também foram abordados no diálogo.
Joci Aguiar, do Observatório do Clima para questões de mulheres, falou sobre a importância de considerar gênero na cobertura jornalística. “Quando se fala sobre a crise climática sempre vem à cabeça a questão econômica e não se observa o social e a mulher nesse contexto. É preciso o olhar feminino nessa temática”, analisou Joci, que, ao contar sobre a experiência no Acre, compartilhou que “a resiliência que a mulher carrega é uma experiência positiva para influenciar nas políticas públicas no escopo de negociações e recorte de gênero na discussão do clima”.
Quanto a mobilidade urbana, Nicole Barbieri, gerente Regional da Tembici, explicou que “ainda há poucas pessoas que correlacionam o quanto o uso de bicicletas pode contribuir com a mudança do clima, há um grande desafio em descarbonizar as cidades e por isso estamos investindo tanto no uso de bicicletas”. Para a gerente Regional da Tembici “a comunicação poderá contribuir muito com esse entendimento”.
Por: Rejane Romano, do Instituto Ethos
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